Delegado sobre morte de kalunga em pau-de-arara: “Culpa da vítima”

Foto colorida de mulher negra. Ela está em um caminho de terra de chão, veste uma saia com flores e e com uma blusa rosa

 A investigação conduzida pela Polícia Civil de Goiás sobre a morte da quilombola Domingas Fernando de Castro, de 52 anos, em um acidente envolvendo um pau-de-arara na Chapada dos Veadeiros, foi concluída. Domingas utilizava o veículo fornecido pela Prefeitura de Cavalcante para sua locomoção no município goiano. O incidente ocorreu quando ela se assustou com a fumaça proveniente do transporte irregular e gritos de "fogo", resultando em sua decisão de pular da carroceria, resultando em ferimentos graves.

O laudo cadavérico revelou que Domingas perdeu uma quantidade significativa de sangue na queda, levando-a à morte por anemia aguda pós-hemorrágica devido à grave lesão sofrida. Apesar das condições adversas do transporte, o delegado Haroldo Padovani Toffoli encerrou a investigação na última sexta-feira (23/2), concluindo que a vítima é responsável por sua própria morte, alegando que o fato ocorreu devido ao salto do veículo.

O delegado enfatizou que o pau-de-arara é um meio de transporte historicamente utilizado pelos quilombolas na região, inclusive com contrato formalizado com a prefeitura através da Secretaria de Transportes. Ele também esclareceu que a fumaça foi um evento natural decorrente da força aplicada no veículo durante a subida de uma via íngreme, e não resultou de ação humana.

A família de Domingas expressa revolta com o desfecho das investigações, contestando a conclusão do delegado. O Ministério Público de Goiás (MPG) recebeu o inquérito e manifestará sua posição nos autos no prazo legal. A morte da quilombola motivou uma ação do MPGO, que solicitou a proibição do uso de caminhões como transporte público em Cavalcante, exigindo que os veículos oferecidos pela prefeitura tenham bancos com encosto, cinto de segurança, cobertura, barra de apoio, proteção lateral, e evitem riscos de esmagamento e projeção de pessoas em caso de acidente.

A promotora de Justiça Úrsula Catarina Fernandes destacou a preocupação com as condições precárias de transporte da comunidade quilombola, evidenciada por uma foto anexada ao documento que mostra pessoas amontoadas em um pau-de-arara, registrada 13 dias após a morte de Domingas.

O transporte em pau-de-arara era a única opção disponível para a população de Cavalcante, especialmente para sacar dinheiro de auxílios governamentais, devido à falta de acesso a outras formas de transporte coletivo. A reportagem constatou que, atualmente, não há alternativa ao transporte em caminhão irregular na região.

O termo "Kalunga" está relacionado à comunidade quilombola Kalunga, descendente de escravizados, onde Domingas vivia. A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Cavalcante para obter informações sobre as condições de transporte, aguardando resposta.

Fonte: Metrópolis

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
Diário de Posse