Últimos dias são cruciais e definidores nas eleições: como o cenário muda na reta final

Últimos dias são cruciais e definidores nas eleições: como o cenário muda na reta final

Nos bastidores de qualquer campanha eleitoral, a reta final é sempre um período decisivo e repleto de incertezas. Diversos especialistas e análises acadêmicas indicam que os últimos dias que antecedem a votação são responsáveis por consolidar a maioria das intenções de voto e, muitas vezes, redefinir a dinâmica das disputas políticas. Essa fase é caracterizada por uma intensa mobilização de campanhas, aumento do interesse dos eleitores e, não raro, reviravoltas inesperadas que podem definir o resultado.

De acordo com o professor Marcus Melo, cientista político e pesquisador da Universidade de Pernambuco (UPE), uma parcela significativa do eleitorado toma sua decisão final apenas na última semana que antecede o pleito. “Estudos eleitorais mostram que cerca de 20% dos eleitores ainda estão indecisos a menos de 10 dias da eleição. Esse número é relevante o suficiente para mudar qualquer disputa acirrada”, afirma o professor, referindo-se a pesquisas realizadas durante as últimas eleições no Brasil e em outros países latino-americanos.

Esses eleitores, segundo Melo, tendem a se guiar por fatores como performance em debates, propagandas finais e, sobretudo, a percepção de quem tem mais chances de vitória. “A teoria da 'onda de última hora' é um fenômeno consolidado. Eleitores indecisos acabam votando no candidato que acreditam ter chances reais de ganhar, o que gera uma convergência nos últimos momentos”, explica.

Além das intenções de voto que ainda estão em jogo, a reta final das eleições é um período de estratégias intensas para as campanhas. De acordo com o consultor político Gaudêncio Torquato, autor do livro Marketing Político e Persuasão Eleitoral, muitas campanhas concentram a maior parte de seus recursos publicitários nos dias que antecedem a votação. “Isso acontece porque é a fase em que o eleitor está mais atento. Propagandas impactantes, ações de rua e até mesmo eventos de apoio público ganham um peso maior nessa reta final”, afirma.

Torquato relembra casos emblemáticos de reviravoltas históricas. “Na eleição de 2014 para a presidência do Brasil, por exemplo, Aécio Neves (PSDB) cresceu expressivamente nas intenções de voto na última semana, após um desempenho bem avaliado em debates e na propaganda eleitoral. Ele chegou a quase empatar com Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno”, conta o consultor, ressaltando como a percepção do eleitor pode mudar de forma rápida e decisiva.

Estudos também apontam que eventos como debates e coberturas da mídia se tornam mais influentes nos últimos dias. Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 35% dos eleitores afirmaram que os debates tiveram um “impacto decisivo” na escolha final do voto em eleições passadas. Para o cientista político Alberto Carlos Almeida, autor de  A Cabeça do Eleitor, os debates eleitorais realizados nos dias finais são capazes de criar o que ele chama de “efeito memória de curto prazo”.

“É como se o eleitor armazenasse essas informações frescas e as utilizasse para tomar sua decisão final. Um desempenho ruim ou um ataque certeiro em um debate pode desestabilizar um candidato que até então liderava, principalmente em disputas apertadas”, explica Almeida, referindo-se ao caso da eleição de 2018, quando o então candidato Jair Bolsonaro se ausentou dos últimos debates, decisão que gerou especulações e forte repercussão na mídia.

Outra característica relevante dos últimos dias de campanha é o surgimento do chamado “voto útil”. Segundo a pesquisa realizada por David Samuels, da Universidade de Minnesota, uma parcela expressiva de eleitores que se identificam como indecisos ou que apoiam candidatos menores, tendem a optar por um candidato com maior potencial de vencer para “não desperdiçar o voto”.

“Isso é particularmente verdadeiro em sistemas como o brasileiro, onde o segundo turno é uma possibilidade real. As pessoas votam pensando no cenário futuro, não apenas no presente”, afirma Samuels. Ele cita como exemplo a eleição de 2010 no Brasil, quando muitos eleitores que apoiavam Marina Silva (PV) migraram para José Serra (PSDB) no segundo turno, após a candidata ficar de fora da disputa final.

Seja por debates, propagandas, reviravoltas ou simplesmente pela consolidação de votos indecisos, os últimos dias de uma eleição são decisivos para definir quem será eleito. Para candidatos e campanhas, esse é o momento de intensificar ações e evitar qualquer deslize que possa comprometer meses de trabalho.

O eleitor, por outro lado, deve redobrar a atenção e buscar se informar sobre as propostas dos candidatos para tomar uma decisão consciente. Afinal, o voto é a principal ferramenta de mudança e transformação social — e a reta final é a última oportunidade para refletir e definir o futuro.

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