Indecisos: A força oculta nas eleições e seu impacto no futuro político

Indecisos: A força oculta nas eleições e seu impacto no futuro político

Em toda eleição, um grupo de eleitores exerce um papel fundamental, muitas vezes decisivo: os indecisos. Eles podem determinar a vitória de um candidato e, por isso, têm sido o alvo de campanhas intensas, seja nas redes sociais, nas ruas ou nos debates televisivos. Segundo levantamento do Instituto Datafolha, mais de 20% dos eleitores brasileiros permanecem indecisos a poucas semanas do dia da votação. Mas quem são essas pessoas? E quais fatores influenciam sua escolha?

O perfil do eleitor indeciso varia conforme a região, faixa etária e nível de escolaridade. Uma análise da última eleição presidencial mostrou que a maior parte desse grupo é composta por mulheres (60%), entre 30 e 50 anos, e com ensino médio completo. Geograficamente, os estados do Norte e Nordeste concentram o maior número de eleitores ainda sem posicionamento definido, o que torna essas regiões o foco de campanhas mais intensas nos últimos dias de campanha.

O cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que os indecisos representam um dos maiores desafios para os partidos. “Esse grupo é menos engajado em discussões políticas e, por isso, tende a se afastar de narrativas polarizadas. Ao mesmo tempo, são os mais suscetíveis a decisões tomadas no calor do momento, como discursos emocionais e eventos de última hora, que podem alterar todo o cenário eleitoral”, explica.

Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) revelou que os principais motivos para a indecisão são a desconfiança nos candidatos (42%) e a falta de propostas concretas (38%). Outros fatores incluem saturação de notícias negativas (15%) e dificuldade de acesso a informações objetivas (5%).

Para a psicóloga política Juliana Andrade, o eleitor indeciso busca, no fundo, uma segurança emocional. “A indecisão é resultado de um processo de desconexão com o cenário político. Esse eleitor sente que todos os candidatos são semelhantes em suas promessas e, portanto, nenhum se destaca como a melhor escolha. Em muitos casos, isso leva ao fenômeno do ‘voto útil’, em que o eleitor opta por um nome apenas para evitar que seu pior receio ganhe, e não porque realmente apoia a agenda daquele candidato.”

Estudos de casos em eleições anteriores mostram como o eleitor indeciso pode mudar o curso de uma disputa. Nas eleições presidenciais de 2018, um levantamento do Instituto Paraná Pesquisas apontou que 18% dos eleitores decidiram seu voto apenas na última semana, e 7% escolheram o candidato no próprio dia da eleição. Esse comportamento foi determinante em estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde a mudança de cenário nos últimos dias ajudou a definir o segundo turno.

Em um estudo publicado na Revista Brasileira de Ciência Política (2020), os pesquisadores Fernanda Ferreira e Paulo Viana destacam que, em situações de alta polarização, o eleitor indeciso tende a optar por candidatos que se apresentam como “menos radicais” ou que adotam um tom conciliador. “A campanha que consegue ‘despolarizar’ o debate e apelar para a necessidade de unidade nacional costuma atrair a simpatia desse público na reta final”, concluem os autores.

Compreendendo a importância desse grupo, os candidatos adotam estratégias específicas para persuadi-los. De acordo com a pesquisadora de comunicação política Maria Duarte, da Universidade de Brasília (UnB), os candidatos geralmente utilizam quatro abordagens principais: campanhas de proximidade, debates televisivos, discursos emocionais e presença nas redes sociais.

Para os eleitores que ainda não definiram seu voto, especialistas sugerem algumas ações para garantir uma escolha mais consciente: analise as propostas de governo, verifique o histórico dos candidatos, fuja de fake news, assista a debates e entrevistas, e pense a longo prazo, considerando o impacto de seu voto para o futuro.

O eleitor indeciso possui um poder significativo, e sua escolha – ou ausência dela – pode definir os rumos de uma eleição. Manter-se informado e evitar decisões baseadas apenas em emoções momentâneas são passos essenciais para transformar a indecisão em uma decisão consciente e impactante.


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