O perigo do discurso Vitimista: Como candidatos utilizam a estratégia para manipular eleitores

O perigo do discurso Vitimista: Como candidatos utilizam a estratégia para manipular eleitores

Em períodos eleitorais, é comum observar candidatos adotando diferentes estratégias para ganhar a simpatia do eleitorado. Uma das táticas que vem se destacando é a do discurso vitimista. Esse comportamento consiste em se colocar constantemente na posição de vítima de ataques e conspirações, gerando empatia e atraindo eleitores que se identificam com essa narrativa. No entanto, especialistas alertam para os riscos dessa abordagem, tanto para a saúde política quanto para a saúde mental da sociedade.

Segundo o psicólogo comportamental Sérgio Fernandes, o discurso vitimista é uma tática de manipulação psicológica em que o indivíduo se apresenta como injustiçado. Quando um candidato se coloca repetidamente no papel de vítima, ele está utilizando um recurso de persuasão que visa despertar a compaixão e o senso de justiça do eleitorado. Isso, por si só, não é um problema, mas torna-se prejudicial quando é usado de forma recorrente e desproporcional, desviando o foco das discussões políticas para uma narrativa emocional.

De acordo com a psicanalista Ana Ribeiro, o vitimismo exagerado também é um indicativo de traços narcisistas. O indivíduo tenta controlar a percepção alheia para que seja visto como superior moralmente. Na política, isso se traduz em uma imagem de quem “luta contra um sistema opressor”. O objetivo é desviar a atenção das falhas e se proteger de críticas.

O uso constante da estratégia vitimista não é apenas uma manipulação emocional: ele pode influenciar a maneira como os eleitores se relacionam com a política. Ao se posicionar como vítima, o candidato leva os eleitores a focarem menos nas propostas e soluções e mais em uma narrativa pessoal, criando um vínculo afetivo que, muitas vezes, cega o eleitor a respeito das reais competências do candidato.

Para o psicólogo político Marco Lima, o problema é que essa postura gera uma divisão entre "nós contra eles", polarizando ainda mais o ambiente político. Esse tipo de discurso acaba promovendo um clima de hostilidade, pois os eleitores passam a ver o oponente político como um inimigo e não como um adversário em debate. Essa dinâmica reforça a desinformação e impede um debate construtivo sobre temas de interesse público.

Além dos impactos políticos, a tática do vitimismo pode prejudicar a saúde mental coletiva. Segundo Ana Ribeiro, quando essa postura é replicada na sociedade, a tendência é que as pessoas comecem a se identificar como vítimas em várias situações do cotidiano, gerando uma sensação generalizada de impotência e desencadeando quadros de estresse e ansiedade.

Se um candidato se apresenta como vítima e essa narrativa é amplamente aceita, os eleitores podem começar a enxergar-se da mesma forma, como vítimas de forças maiores e incontroláveis. Isso mina o senso de protagonismo e iniciativa individual, gerando um sentimento de desesperança, aponta a psicanalista.

Para não cair na armadilha do discurso vitimista, é essencial que o eleitor mantenha uma postura crítica. Sérgio Fernandes sugere que a população foque em três aspectos principais ao avaliar um candidato:

1. Verificar as propostas. Em vez de se deixar levar pela narrativa emocional, é importante analisar se o candidato apresenta propostas concretas e viáveis.

2. Comparar discursos e realizações. Investigue o histórico do candidato. Muitas vezes, quem se coloca como vítima possui, na prática, um comportamento de perseguidor ou de quem já esteve em posição de poder.

3. Atentar-se a exageros e repetição. Se o discurso de vitimização é recorrente e exagerado, isso pode ser um indicativo de que o candidato está tentando manipular as emoções do público.


O discurso vitimista é uma estratégia poderosa, mas deve ser visto com cautela pelo eleitor. Quando um candidato se coloca excessivamente na posição de vítima, é necessário avaliar até que ponto isso é genuíno e até que ponto se trata de uma tática de manipulação. Segundo especialistas, ao adotar uma postura crítica e racional, a população estará mais preparada para identificar esse tipo de comportamento e votar de forma consciente.


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